Textos e Contextos

Esta seção será dedicada à inscrição dos meus textos que um dia escrevi na academia, outros que tracei durante minha trajetória enquanto Secretária Municipal de Educação, em forma de discursos, e servirá ainda para a transcrição de textos de outros autores, conterrâneos ou não, devidamente autorizados, respeitando-se  os direitos autorais.
Julgo que será um espaço para a divulgação de textos que possam servir à reflexão e quem sabe, pesquisa, informações, etc...

Considerando que estamos nos aproximando do dia 15 de outubro, data dedicada ao Dia do Professor, remeto-me ao texto abaixo, que foi escrito pelo magnífico Professor e Escritor, Celso Antunes, em cuja fonte costumo beber, quando preciso refletir sobre o meu papel de educadora, exatamente por escrever como se conosco estivesse falando. Tem linguagem clara, acessível e fala direto do chão da escola. Assim, inicio os textos deste blog, transcrevendo na íntegra o texto que inicia o seu livro "Quanto vale um professor? Reais ou imaginários alguns imprescindíveis, outros nem tanto" publicado pela Editor Vozes-RJ, 2011 (o texto se localiza nas páginas 21 a 25).
Para a publicação do referido texto,  muito me honrou a autorização do seu autor - Celso Antunes - obtida em 10/10/2013.
Assim, é com imensa satisfação que visando homenagear os professores, em especial aos da Rede Municipal de Ensino do município de Itaberaba/Ba., dedico o texto que segue, para que após a leitura se permita cada um a reflexão necessária do seu importante papel em nossa sociedade, atualmente tão necessitada do eficiente papel social do Professor.
A você Professor, Professora, meu reconhecimento pelo nobre trabalho. Um minuto da sua atenção que poderá salvar muitas vidas.
 Um abraço, vamos ao texto: 


Doutora Magali
Condições essenciais para um trabalho docente com competência, eficiência e qualidade

Se for possível se pensar em unanimidade municipal,  seu nome é Magali, ou, de maneira mais formal, Doutora Magali.
Pediatra do único hospital de sua cidade, é conhecida por todos  por sua atuação como médica. Sua fama já ultrapassou limites, e proposta de empregos mais rentávies não faltaram, mas nada disse move a felicidade de trabalho bem realizado no lugar em que nasceu. O que talvez, nem todos saibam é que Doutora Magali, no atendimento de seus pacientes, nunca esquece sete princípios que, em seu atendimento, constituem verdadeira missão, “chova ou faça sol”, para pacientes novos ou para antigos clientes. Os princípios médicos que asseguram a Magali sua excelência profissional são percebidos por todos onde trabalha, sejam pacientes, visitantes e colegas. Em seu trabalho, Magali tem sempre (1) uma meta prioritária, um foco irrestrito, que é a permanente busca da saúde de seu paciente, mesmo que saiba que existem casos muito difíceis.
Para que esse princípio se concretize, Magali sabe que necessita (2) acompanhar com apurado cuidado o progresso de cada paciente, em cada dia e, quando necessário, em cada minuto. Ao exercer esse acompanhamento, Magali (3) avalia muito, avalia sempre, avalia para perceber distância entre o estado do paciente e sua saúde completa. Em seu trabalho de avaliação serena, firme e persistente, Magali percebe se as ações e remédios que ministrou (4) estão surtindo efeito, não hesitando em mudar as ações e trocar o remédio em caso negativo. Para que sua avaliação e eventual mudança de rota sejam viáveis, a doutora (5) estuda muito, estuda sempre, jamais se deitando à noite sem, pelo menos, alguma coisa nova ter acrescentando aos seus bons conhecimentos. Doutora Magali recebe a todos com  sorriso e em todos acende a esperança da cura, mas sabe que jamais existem dois pacientes iguais e que, portanto, (6) todos podem melhorar, ainda que de maneira e em tempo diferentes. Médica simples, mas extraordinárias, Doutora Magali percebe seu paciente com (7) visão holística e, por isso, al lado de remédios, não se esquece de conselhos sobre higiene, alimentação e qualidade de vida. Magali, pediatra do único hospital de sua cidade, deveria por sua ação ser modelo e paradigma para toas as professoras municipais.
Professora municipais? Será que não houve erro nessa afirmação? Será que a tão é diferente da missão do bem ensinar? A resposta é, ao mesmo tempo um “não” e  um “sim”, pois se é verdade que cura e aprendizagem são funções diferentes, ainda que essenciais a todos, não há razão para diferentes linhas de procedimentos nas duas ações.
 
Observe essa relação no quadro abaixo:

Princípios
Na cura do paciente
Na aprendizagem do aluno
      1.       A ação profissional está centralizada por um foco ou uma missão
O foco central ou a missão primordial de todo ato médico é a cura, a restauração da saúde
O foco central ou a missão indiscutível é a aprendizagem significativa do aluno, a sua transformação.
      2.       Impossível aferir a missão sem se avaliar progressos, perceber mudanças.
Ao olhar o paciente a cada dia, o olhar médico deve perceber mudanças, aferir progressos, verificar se há mudanças de estado.
Ao olhar os alunos e ministrar aulas, é sempre essencial perceber a sutileza de suas mudanças, as alterações ditadas por seu progresso.
     3.       Para se perceber progressos, a avaliação precisa ser nora diária, trabalho diversificado e contínuo.
Ao conversar com o paciente, olhar seus olhos e perceber  suas reações, o médico o avalia em todas as oportunidades possíveis.
A avaliação do discente não pode ser fenômeno isolado e circunstancial, deve constituir ação contínua, perseverante e progressiva.
     4.       Quando se percebe que a ação não surte efeitos, é importante mudar a prática, buscar novos caminhos.
Ao avaliar o paciente, se não se identifica melhoria, não se hesita em mudar as práticas.
Não pode existir ensino eficiente quando não se sabe como mudar, por que mudar ne o que mudar na prática pedagógica.
      5.       Não se chaga ao exercício profissional sem qualidade, sem estudo constante, esforço permanente, dedicação integral.
A prática médica evolui muito e, por essa razão, o estudo contínuo, a formação perene constitui missão impossível de ser esquecida.
As competências do bom professor são posta à prova todos os dias, circunstâncias que impõe estudo perene, aprendizagem contínua.
       6.       Na saúde ou na aprendizagem, não existem duas pessoas iguais e, por isso, o trabalho médico e docente respeita e compreende as diferenças.
É importante lutar sempre pela diminuição do sofrimento, percebendo que pacientes diferentes requerem processos e velocidade de cura também diferentes.
Todos os alunos podem aprender, ainda que com intensidade e processos diferentes, ainda que com velocidade variável.
       7.       A cura e a aprendizagem significativa são conquista mais amplas quando existem condições para uma qualidade de vida melhor.
A saúde é bem mais plausível quando existe condição melhor de alimentação, higiene e hábitos saudáveis.
A aprendizagem significativa é mais fácil quando o aluno é visto de forma holística e percebido por suas condições de saúde física e emocional.

A ajuda que o bom trabalho da Doutora Magali passaria aos professores é, portanto, imensa e plausível, e a comparação entre saúde e aprendizagem não envolve discrepância. Nem sempre, entretanto, a Doutora Magali pode deixar perder pacientes, posto que a saúde seja sempre espreitada pela morte. Nesse ponto, suas colegas professoras levam uma vantagem. É possível, ainda que não seja fácil, jamais perder aluno algum.


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